segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Entendendo os trabalhos laureados com o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2011



Dois trabalhos foram premiados pela Fundação Nobel este ano na área de Medicina/Fisiologia:
  • as descobertas relacionadas à ativação da imunidade inata, por Bruce A. Beutler e Jules A. Hoffmann, e
  • a descoberta das células dendríticas e seu papel na imunidade adaptativa, por Ralph M. Steinman.
Para compreender os trabalhos laureados é necessário, antes de mais nada, entender os dois tipos de imunidade citados: imunidade inata e imunidade adaptativa. Façamos o seguinte: denominemos resposta imunológica a série de eventos que acontecem entre o ataque por um agente invasor (bactéria, vírus, fungo ou outro parasita) e o instante em que o organismo está completamente livre desse ataque.

Pois bem, a resposta imunológica ocorre em duas etapas: a imunidade inata para a infecção, atuando como uma barreira protetora do organismo, enquanto a imunidade adaptativa “limpa” o organismo, livrando-o da infecção.


Em 1996, Jules Hoffmann, trabalhando com moscas-da-fruta, descobriu que é necessária a presença de sensores de micro-organismos invasores para desencadear a resposta imunológica, ativando a imunidade inata. Descobriu também que a existência de tais sensores está ligada à expressão de um gene dessas moscas conhecido como Toll. Os insetos portadores de mutações no gene Toll eram incapazes de se defender de infecções quando expostos a bactérias ou fungos.

Em 1998, enquanto procurava alguma substância capaz de se ligar a moléculas do tipo lipopolissacarídeos (LPS), um produto bacteriano capaz de causar o choque séptico, condição ameaçadora à vida pela superestimulação do sistema imunológico, Bruce Beutler encontrou, em camundongos resistentes a LPS, um gene mutante semelhante ao Toll das moscas-da-fruta. Tal gene codifica o receptor para LPS, que dispara o processo inflamatório. Inclusive, se houver uma dose excessiva de LPS o organismo é conduzido a uma condição de choque séptico, que pode levar à morte.

Notem como ambos os trabalhos citados acima decifraram, juntos, o mecanismo de disparo da resposta imunológica, ativando a imunidade inata.

Muito antes de tudo isso, em 1973, Ralph Steinman descobriu um novo tipo celular. Por apresentar uma grande quantidade de expansões citoplasmáticas semelhantes aos dendritos de neurônios, Steinman chamou sua descoberta de célula dendrítica. À época da execução de seu trabalho, chegou a especular que tais células estavam de alguma maneira relacionadas à ativação das células T, importantes personagens no desencadeamento da imunidade adaptativa. Apesar de tais elucubrações terem sido desprezadas pela comunidade científica, suas pesquisas subsequentes demonstraram que, de fato, as células dendríticas são as responsáveis pela recepção dos sinais provenientes da imunidade inata e apresentação desses sinais às células T, desencadeadoras da imunidade adaptativa.

As descobertas que foram premiadas hoje levaram a um novo entendimento do sistema imunológico, permitindo o desenvolvimento de vacinas mais eficazes, bem como a novas estratégias de estimulação da resposta imunológica para atacar tumores. Também foram dadas pistas de como tratar as terríveis doenças autoimunes, que sempre foram um grande desafio para a Medicina.

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